As doenças cardiovasculares se desenvolvem de forma silenciosa na infância e adolescência, o que torna importante avaliar os fatores de risco para aterosclerose nesta fase da vida1.
A circunferência do pescoço (CP) é uma ferramenta clínica de fácil utilização para indicar risco cardiometabólico em crianças e adolescentes. Tem por vantagem uma boa confiabilidade inter e intra observador, não ter variação influenciada pelo horário de avaliação, ser aferida em superfície mais estável e exposta do corpo, apresentar maior facilidade para o examinador e examinado e ter boa aceitação socialmente2.
Em comparação à medida da gordura da região abdominal, a circunferência do pescoço tem sido considerada um melhor parâmetro de avaliação do risco cardiometabólico, muito provavelmente pela região superior do corpo ser responsável por uma maior liberação de ácidos graxos livres do que a região central, principalmente em indivíduos obesos3,2.
A literatura científica começou a associar a CP com a Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS), doença respiratória fortemente relacionada com resistência à insulina, fatores de risco cardiometabólico e síndrome metabólica. A obesidade causa acúmulo de gordura visceral e subcutânea, inclusive no pescoço, e a maioria dos pacientes com SAOS são obesos ou possuem sobrepeso. A partir destes resultados os estudos avançaram e várias pesquisas internacionais confirmam a associação da CP com fatores de risco cardiometabólico2.
Em estudo realizado com 4200 crianças e adolescentes de diferentes províncias do Irã concluiu que a circunferência do pescoço está associada a alguns fatores de risco cardiometabólicos, como elevação da pressão arterial e índice de massa corporal (IMC), baixas concentrações de lipoproteína de alta densidade (HDL-c), obesidade abdominal e síndrome metabólica. A pesquisa também constatou que 61% dos participantes do estudo apresentaram fatores de risco cardiometabólicos3.
No Instituto Movere, que utiliza uma metodologia baseada em evidências científicas, a circunferência do pescoço é utilizada para avaliar o risco cardiometabólico nas crianças e adolescentes.
Dentre as crianças e adolescentes com excesso de peso avaliados ao ingressarem no programa de intervenção no ano de 2016, 69% apresentaram circunferência do pescoço elevada. Em 2017, valores elevados desta medida foram encontrados em 62% dos avaliados em outro grupo ingressante no programa.
Sendo assim, a circunferência do pescoço é uma variável de suma importância na avaliação da presença de risco cardiometabólico em crianças e adolescentes, especialmente entre os que apresentam excesso de peso. Diagnosticar e monitorar a melhora desta medida antropométrica é uma das ações que o Instituto Movere adota em seus programas de intervenção para prevenção e tratamento da obesidade infantil.
Referências
- MIRANDA, Valter Paulo Neves et al. Associação entre o estilo de vida e a composição corporal com os fatores de risco para as doenças cardiometabólicas, microbiota intestinal e imagem corporal de adolescentes do sexo feminino. 2017.
- SOUZA, M. F. C. Identificação de pontos de corte da circunferência do pescoço para determinação dos níveis de excesso de peso e predição do risco cardiometabólico em adolescentes. Tese (doutorado em Ciências da Saúde) – Universidade Federal de Sergipe, 2016.
- KELISHADI, Roya et al. Association between neck and wrist circumferences and cardiometabolic risk in children and adolescents: The CASPIAN-V study. Nutrition, v. 43, p. 32-38, 2017.