Obesidade e a gordura no fígado em crianças e adolescentes
17 de julho de 2014 - admin

Vera Lucia Perino Barbosa, Dra. em Ciências da Saúde
Tatiana Silva, Nutricionista e Especialista em Obesidade

Com o aumento alarmante da obesidade em crianças e adolescentes, podemos observar cada vez mais cedo o surgimento de comorbidades antes vistas só em adultos. Dentre as principais alterações associadas à obesidade, podemos citar a hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus, problemas psicológicos, ortopédicos, esteatose hepática não alcoólica entre outras.

Estima-se que só as DCNTs contribuíram com quase 60% das mortes (31.7 milhões) no mundo. Em 2020, a previsão é de que 73% das mortes sejam atribuídas a estes agravos. Estes números envolve um alto custo econômico para o indivíduo, a família e a sociedade.

Fígado

Uma das doenças que está alarmando os especialistas é a esteatose hepática não alcoólica (non alcoholic fatty liver disease = NAFLD), chamada também de gordura no fígado. A doença é quase idêntica ao dano hepático vivido por pessoas que consomem muita bebida alcoólica, mas, neste caso, o estrago está feito não pelo álcool, mas pela má alimentação e excesso de peso.

A esteatose hepática não alcoólica é uma condição do fígado causada por acúmulo de gordura. Literalmente é sinônimo de fígado gorduroso. Nosso fígado possui normalmente pequenas quantidades de gordura, que compõe cerca de 10% do seu peso. Quando o acúmulo de gordura excede esse valor, estamos diante de um fígado que está acumulando gordura dentro do seu tecido. O fígado gorduroso parece ser o mais novo componente da epidemia da obesidade, principalmente entre crianças e adolescentes.

No Instituto Movere em um dos grupos das 113 crianças que foram avaliadas por ultrassonografia, 30% apresentaram gordura no fígado. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hepatologia, a prevalência da doença em crianças foi encontrada entre 15,7% e 77%, de acordo com o método utilizado na avaliação.

A esteatose hepática não alcoólica está estritamente relacionada com a Síndrome Metabólica em crianças e adolescentes obesas, e a prevalência chega a 28%. No Instituto Movere, dentre as crianças e adolescentes que realizaram os exames bioquímicos, 12,5% apresentavam os critérios para diagnóstico de síndrome metabólica.

Excesso de peso, síndrome metabólica, e má alimentação, exercem grande influência no desenvolvimento da esteatose hepática não alcoólica. Ao imaginarmos o fígado gorduroso, logo pensamos nas gorduras. Porém, por incrível que isso possa parecer, não é somente a gordura a grande vilã do fígado de nossas crianças. Já se sabe que nesses casos o excesso de carboidratos, principalmente o açúcar, são os principais responsáveis pelos depósitos de gordura no fígado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o açúcar de adição não ultrapasse 10% das calorias diárias.

Em outro grupo de 93 crianças atendidas no Instituto Movere, por meio do questionário de frequência do consumo alimentar aplicado no início do estudo, observou-se que 74% das crianças e adolescentes apresentavam alto consumo de refrigerantes e sucos industrializados e 57% elevada ingestão de doces. Soma-se a isto o consumo de alimentos de alto índice glicêmico e ricos em gordura saturada. Corroborando com estes dados, 62% das famílias das crianças e adolescentes apresentaram alto consumo de açúcar refinado em suas residências.

As estratégias para o tratamento da esteatose hepática não alcoólica consiste em redução gradual do peso gordo, controle dos níveis de glicemia, insulinemia, colesterol e triglicérides. A intervenção deve ser multidisciplinar, com orientação nutricional, exercícios físicos e intervenções psicológicas.

No Instituto Movere as crianças e adolescentes obesos com suas famílias passam por tratamento interdisciplinar, obtendo ótimos resultados após 1 ano de intervenção. Nos fatores de risco para síndrome metabólica, 90% das crianças e adolescentes diminuíram significativamente a circunferência abdominal. Dentre os fatores de risco para esteatose hepática não alcoólica relacionados à alimentação, 98% das crianças e adolescentes reduziram o consumo de refrigerantes, 95% diminuíram o consumo de doces e 91% dos pais reduziram o consumo de açúcar refinado em suas residências.

As mudanças de hábitos e comportamentos que as crianças e adolescentes alcançaram por meio das intervenções realizadas no Instituto Movere foram essenciais para a redução dos fatores de risco para a esteatose hepática não alcoólica e para doenças associadas à obesidade infantil.

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