Impacto do Projeto Núcleo de Atenção Contra a Violência em Crianças e Adolescentes Obesos sobre Variáveis Antropométricas em Crianças e Adolescentes com Sobrepeso e Obesidade
23 de junho de 2016 - Vera Perino

Profa. Dra. Vera Lúcia Perino Barbosa
Pós-graduanda Tatiana Silva Damasceno

A obesidade é considerada um problema de saúde pública no Brasil e em diversos países. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que em todo o mundo a prevalência de obesidade quase dobrou desde 19801. Na população infantil a prevalência da obesidade também tem aumentado em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, o que está estritamente relacionado a mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares2.

Programas de mudança de estilo de vida e a consequente criação de um ambiente favorável à saúde e à promoção de práticas alimentares e estilo de vida saudáveis se apresentam como importantes estratégias para enfrentar problemas alimentares e nutricionais como obesidade e doenças crônicas não transmissíveis associadas2.

O projeto Núcleo de Atenção Contra a Violência em Crianças e Adolescentes Obesos, realizado pelo Instituto Movere, tem esta proposta com atendimentos semanais em grupo com atividade física, programa de reeducação alimentar, dinâmicas de psicologia e suporte do serviço social e jurídico.

O acompanhamento da evolução dos participantes do projeto acontece mensalmente por meio do monitoramento do peso e altura para determinação do IMC (Índice de Massa Corporal), além de outras medidas antropométrica, como circunferências do pescoço, cintura e abdome. Os dados de melhora do 2º trimestre do projeto estão apresentados na Tabela 1.

A classificação do IMC pelas curvas da OMS é o parâmetro utilizado para determinar o estado nutricional de crianças e adolescentes3. Desta forma, a diminuição do IMC indica melhora do quadro de sobrepeso e obesidade, assim como a manutenção do seu valor aponta para o controle da progressão da doença, visto que nos últimos anos o IMC tem se deslocado ascendentemente na população, ou seja, crianças classificadas como obesas tem se tornado mais obesas ainda3. No Brasil essa tendência ascendente está indo de 0,4% para 5,9% no sexo masculino e de 0,7% para 4,0% no sexo feminino, comparando os mesmos períodos4. Em nossos resultados 79% das crianças e adolescentes atendidos melhoraram ou estabilizaram o valor do IMC no trimestre, mostrando o impacto positivo do programa sobre esta variável antropométrica e no controle da progressão da obesidade infantil na população estudada.

Mais recentemente a circunferência do pescoço (CP) tem sido proposta por vários autores como uma forma eficaz, de baixo custo e facilmente aplicável para avaliar a distribuição de gordura da parte superior do corpo, permitindo identificar as crianças em risco de desenvolver condições relacionadas com a obesidade central, tendo a vantagem de não sofrer variação no tamanho ao longo do dia, como pode acontecer com outras medidas corporais5. A CP elevada tem sido associada com diversas complicações metabólicas, como em estudo com 699 escolares que encontrou associação positiva entre elevada CP com glicemia de jejum, triglicérides, pressão sistólica e diastólica, proteína C-reativa, insulina e HOMA-IR6. A diminuição da circunferência do pescoço observada em  69% do grupo avaliado no projeto, podendo ser associado com diminuição de fator de risco para doenças cardiovasculares (DCV).

A gordura abdominal é reconhecida pelo seu papel no desenvolvimento de DCV. Diversos estudos recomendam o emprego desta medida como auxílio no diagnóstico precoce e na identificação daqueles candidatos em potencial a manifestarem os diferentes fatores de risco, como as dislipidemias, em adolescentes7. Com a intervenção do projeto, as medidas da região abdominal diminuíram no grupo, sendo a redução da circunferência da cintura em 67% do grupo e da circunferência abdominal em 55% das crianças e adolescentes. A melhora dessas medidas também aponta para o impacto do projeto sobre a diminuição de fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento de DCV.

Desta forma, a intervenção do projeto Núcleo de Atenção Contra a Violência em Crianças e Adolescentes Obesos tem mostrado impacto positivo em curto prazo nas variáveis antropométricas das crianças e adolescentes e, consequentemente, melhora da obesidade e fatores de risco para doenças cardiovasculares.

Tabela 1 – Percentual de participantes por indicador que melhoraram ou mantiveram os valores no trimestre. São Paulo, 2016.

Indicador

Percentual de crianças e adolescentes que melhoraram

IMC

71%

Circunferência do pescoço

69%

Circunferência da cintura

67%

Circunferência abdominal

55%

 

Referências Bibliográficas

  1. Cunha, Kelly Aparecida da, et al. “Calcium intake, serum vitamin D and obesity in children: is there an association?.” Revista Paulista de Pediatria33.2 (2015): 222-229.
  2. Fernandes, Patrícia S., et al. “Avaliação do efeito da educação nutricional na prevalência de sobrepeso/obesidade e no consumo alimentar de escolares do ensino fundamental.” J Pediatr 85.4 (2009): 315-21.
  3. Friedrich, Roberta Roggia. “Efeito de um programa de intervenção com educação nutricional e atividade física na prevenção da obesidade em escolares: um estudo controlado randomizado.” (2015).
  4. Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/2009: Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. 2010.
  5. Santos, Daniela dos, et al. “Neck circumference as a complementary measure to identify excess body weight in children aged 13-24 months.”Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 15.3 (2015): 301-307.
  6. Gomez-Arbelaez, Diego, et al. “Neck circumference as a predictor of metabolic syndrome, insulin resistance and low-grade systemic inflammation in children: the ACFIES study.” BMC pediatrics 16.1 (2016): 1.
  7. Pavão, Fernando Henrique, et al. “Dislipidemia em adolescentes residentes em um município do Paraná e sua associação com a obesidade abdominal.”Revista da Educação Física/UEM 26.3 (2015).

 

 

 

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